- InformaçãoRio+20 oferece a oportunidade produzir novas propostas para conceber e organizar a transição até sociedades sustentáveis. Esta rubrica tentará agrupá-las sistematicamente a medida dos avanços do processo.
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25 Maio 2012
Trazemos ao mundo a possibilidade de todos os caminhos
Detalhes da proposta
ContextoTambém disponível em English, Français, Español
Os milhões de migrantes da humanidade, todas as pessoas que vivemos todas as formas de mobilidade humana, constituímo-nos como sujeitos sociais de caráter mundial e primordial, desde nossos trabalhos e profissões, de nossos esforços cidadãos em seminários, debates, intercâmbios e reflexões, marchas e mobilizações. Sabemos que esta tarefa histórica e humana somente poderá ser cumprida sob a condição de tornarmos protagonistas de nossa própria história e arquitetos do nosso destino em comum. Habitamos uma única e mesma casa, o planeta Terra e seu universo circundante. Deste fato básico, e não de nenhuma outra autoridade, surge o direito de todos e todas de viver, transitar, residir e trabalhar dignamente nele. Assentar que a migração é consubstancial ao ser humano e que os muros, objetivamente, não são sustentáveis, que temos que projetar e percorrer outros caminhos, já é um indispensável claro ponto de começo.
O contexto e conteúdo capitalista “neoliberal” da globalização em curso opera muitas vezes como real mecanismo seletivo para a mobilidade humana mundial, tendendo a reproduzir em algumas políticas migratórias uma característica dessa própria globalização: a de incluir a alguns e excluir a muitos. Isso revela um conflito de fato cada vez mais agudo e do qual os migrantes são o mais evidente indicador, entre o surgimento histórico do Estado Nação soberano a partir do século XVI e o surgimento que estamos vivendo atualmente, de uma superior soberania da comunidade internacional humana para impor um mínimo e irrenunciável respeito aos Direitos Humanos de todos.
Os migrantes são, antes de tudo, um indicador desse conflito e das necessidades de mudança para o desenvolvimento da humanidade em tempos de crescente interconexão multidimensional de todos os povos e sociedades. Eles evidenciam a necessidade objetiva de redesenhar o tratamento migratório como parte da configuração da governança mundial, o qual implica enfrentar a tarefa de superar o atraso institucional do Estado nação moderno e redesenhar os critérios de identidade, pertinência e cidadania.
A massiva compulsão migratória, expressão de fenômenos estruturais históricos, tendem a trazer consigo a corrupção das instituições públicas e “a indústria negra” da migração, que segundo estimativas variáveis, movimenta entre 15.000 e 30.000 milhões de dólares anuais (segundo maior gerador de dinheiro ilegal no mundo). É o grande negócio da desesperação humana, cujas vítimas se estimam em até dois milhões de pessoas por ano, baseado na desesperação compulsiva do migrante de buscar o país de destino como única possibilidade de sobreviver ou melhorar sua vida. Converter as fronteiras em espaços de encontro e humanização dos fluxos e intercâmbios migratórios é a única alternativa viável frente àquelas crescentes ameaças. Esta conversão das fronteiras somente pode ter sentido para o redesenho da governança se tem como horizonte programático de futuro a construção gradual de grandes áreas geográfico culturais de livre circulação, residência e trabalho, ou seja, de espaços de integração regional em grandes blocos unitários de países que ocupam um grande e comum território geográfico e muitas vezes cultural.
Ao mesmo tempo que os migrantes exercem uma cidadania ampliada em seus países de origem e destino, são também o protótipo de um “cidadão regional”, como realidade emergente e horizonte normativo, em muitos dos espaços geográfico culturais que foram constituídos. A nível subjetivo, de sua identidade e pertinência, os migrantes também transitam. “Continuam sendo” membros de sua sociedade de origem, ainda que simultaneamente “sejam” também membros de fato da sociedade de residência. Trata-se de uma identidade e pertinência que não deixam de ser umas para passar a ser outras, e sim que se somam, agregam e ampliam. Esta ampliação concreta da cidadania a uma dupla pertinência constitui o fundamento potencial, viável, de uma cidadania ainda mais ampla, regional e universal. O critério fundamental operativo é o de homologar e homogeneizar gradualmente as normativas e construir uma institucionalidade comum aos países do espaço integrado, a partir da diversidade e comunidade de instrumentos existentes, que façam efetiva a cidadania regional, reproduzindo este padrão em todas as dimensões da cidadania que se façam necessárias (formação e capacitação profissional, convalidação de títulos, direitos políticos e de trabalho, custódia subsidiária, etc.
No modelo econômico dominante caracterizado pelo aumento da riqueza mundial, da desigualdade e da exclusão no que diz respeito à direitos e oportunidades ao bem estar, a atual migração laboral atua como um mecanismo de fato redistributivo do crescimento econômico mundial. Mas esta “redistribuição de fato” é em si mesma insuficiente e ocorre ainda de um modo forçado pelas circunstâncias, inadvertida ou silenciada, e em choque traumático com o atraso das normativas. Se faz necessária uma múltipla estratégia de redesenho da governança econômica mundial e da migração em interação com a mesma, e que em sua essência reconheça, torne explícito e institucionalize o caráter de fato redistributivo da atual migração mundial. Deve-se chegar a estabelecer como padrão nos acordos e tratados de integração regional, a inclusão de mecanismos redistributivos compensatórios para as economias de menor desenvolvimento e mais prejudicadas inicialmente com a integração, nivelando os graus de riqueza em toda a região integrada, e que possa assumir as corresponsabilidades sobre a migração por parte dos países hoje receptores e credores com base em seu privilégio e administração de estruturas injustas de relação política econômica.
O mercado de trabalho de alcance mundial, onde o capital se move em uma lógica e dinâmica sem território, não age da mesma forma com os trabalhadores, os quais se vêm ainda sujeitos a restrições, sem uma liberdade de circulação equivalente e complementaria, pelo qual uma crescente corrente de trabalhadores migrantes se veem na necessidade de deslocar através e dentro do território de Estados nacionais, perdendo muitas vezes a qualidade de seres humanos submetidos à direitos. É essencial para tornar sustentável a governança da migração, legalizar a função de ajuste nos mercados transnacionais laborais que esta de fato cumpre, indo contra o atraso das regulamentações, permitindo a abertura dos mercados de trabalho e da livre mobilidade de trabalhadores entre os países signatários dos tratados. Na atualidade, muitas vezes os migrantes são incluídos parcialmente. Reduzi-los à única integração laboral, ainda que reconheça mínimos direitos dos trabalhadores, gera a violação dos seus direitos humanos, debilitando o conjunto do sistema democrático, e gera exclusões, riscos e ressentimentos que trarão sem dúvida consequências nocivas para a sociedade como um todo. Devemos permitir que os migrantes e suas famílias possam exercem, em igualdade plena de condições e oportunidades com a população local receptora, todos os direitos econômicos e sociais, saúde, educação, moradia, segurança social, recreação, etc, como garantia sustentável de integração saudável.
Para fazer da migração uma riqueza cultural vivenciada, repleta de oportunidades e de esperança para toda a humanidade, precisamos fortalecer nossas capacidades pluri e interculturais e superar o racismo e a xenofobia como expressão de atraso na consciência da humanidade. No cotidiano, os fluxos migratórios estão delineando um mundo novo e de todos, mudando de fato a forma de pensar e viver a cultura, rumo a uma crescente pluri identidade humana. A ignorância, a incompreensão e descaso dos Estados e de amplos setores da população continua fazendo da migração um naufrágio evitável da dignidade e felicidade humanas. Deve alcançar a todos os níveis e espaços da sociedade, explícita e inequivocamente que todas as formas de racismo e intolerância cultural são formas de degradação humana.
Toda comunidade humana universal somente pode conceber-se saudavelmente como um processo histórico de mescla, de alguma forma extensa e natural, não sendo possível impor como exigência a negação das identidades individuais. Por isso, deve assumir-se o paradigma da “unidade na diversidade”, no qual as identidades particulares entrem intactas ao encontro das outras. O avanço das comunicações, dos intercâmbios comerciais, financeiros, culturais, e as migrações, fazem com que atualmente, apesar de que ainda subsistam e às vezes se agravem os problemas, haja maiores oportunidades de superar essa inexperiência e falta de compreensão dos processos e dinâmicas da diversidade cultural. Acreditamos que cresça a plena consciência que nenhuma cultura e identidade é maior ou melhor que outra: que são diferentes formas do mesmo: como uma comunidade humana vê o mundo e se entende.
Devemos compreender que qualquer projeto sustentável de comunidade humana, ou seja, de governança mundial legítima e responsável, somente pode se concretizar, se incluir mecanismos jurídicos locais, nacionais, regionais e internacionais que sancionem as condutas racistas, xenófobas e discriminatórias, ao mesmo tempo que promovam, capacitem e formem os funcionários públicos, elites dirigentes e população em geral e na consciência destas realidades e implicâncias.
Para isso, é imprescindível avançar na consciência de que, se o medo ao outro e a intolerância cultural são sem dúvida caminhos de perda e empobrecimento; a tolerância, o fortalecimento e a expansão do melhor do subjetivo e coletivo diverso, somente podem ser o pequeno primeiro passo rumo ao ato enriquecedor do desfrute da diferença, a imprescindível possibilidade de que “o outro” seja uma pergunta sobre si mesmo, porque é na busca da resposta que estamos vivos e onde nos constituímos arquitetos do destino.
Propostas e resumos
Actores Migrantes
Eixos
Direitos humanos, Povos, territórios e defesa da Mãe-Terra ◾ Fundamentos éticos e filosóficos: subjetividade, dominação e emancipação ◾ Produção, distribuição e consumo: acesso à riqueza, bens comuns e economia da transição ◾ Sujeitos políticos, arquitetura do poder e democracia
Regiões
Mundo
Temas
Economia e organização da sociedade ◾ Mobilidade humana e migrações ◾ Modos de vida e modelos sociais
Documentos adjuntos