Propostas
Carta de los Pueblos de la Tierra Carta dos Povos da Terra
Detalhes da proposta
Contexto

Também disponível em English, Français, Español

Um projeto de Carta para unir os Povos e iniciar o debate

 

Nestos tempos de incertezas e de desafios planetários, torna-se fundamental que os cidadãos, os homens e as mulheres que constituem o infinito mosaico dos Povos do mundo, possam se tornar arquitetos do seu destino e elaborar juntos os valores e os princípios capazes de guiar a aventura humana para o século XXI.

 

Os Povos da África, da América, da Ásia, da Europa e da Oceania devem aguardar que outros decidam –sem eles ou o nome deles- os alicerces éticos sobre os quais será construído o próximo capítulo da aventura planetária? Devem se limitar a superar, no interior das fronteiras dos seus Estados e eventualmente contando com o apoio das instituições internacionais, as ameaças que as sociedades exercem sobre o planeta e sobre elas mesmas, a persistência da pobreza extrema, a concentração das riquezas e do poder, e muitos outros obstáculos geralmente herdados de uma longa história de guerras e conflitos.

 

O andamento para abrir as avenidas de uma humanidade emancipada tem começado. A consciência de que o mundo confronta com enormes transições é cada dia maior. Durante muito tempo, os Povos têm sido divididos. Porém, eles mostraram muitas vezes solidariedade mútua, a sua audácia, a sua sabedoria e sua creatividade para enfrentar as provas da História. Nos fatos, eles já são mensageiros e portadores de novas realidades éticas, culturais, políticas e sociais, construídas ao longo do tempo a partir dos erros, das inovações, das tensões e dos conflitos que eles viveram. Hoje, eles têm o direito, junto a todos os atores que fazem parte deles, de se unir em derredor dos grandes temas que são comuns para todos eles, de se exprimir na própria fala e de desenhar perspectivas para conviver em comunidade, com dignidade e harmonia, com a Mãe Terra.

 

A Carta seguinte é um primeiro lançamento e um convite para o diálogo. Ela precisa de ser enriquecida, modificada, reformulada segundo as necessidades e conforme aos diálogos que acontecem no marco da preparação da Cúpula da Terra de 2012 e mesmo além disso. O texto se inspira na histórica Carta da Liberdade (Freedom Charter) nascida na África do Sul, estandarte do movimento anti-apartheid da época e adotada em 1955 pelo Congresso do Povo. Foi redigida pelas equipes de animação do Fórum para uma nova Governança Mundial e pelas Assembléias Regionais de Cidadãos, solidários e partecipantes engajados dos movimentos populares que estão lutando nos diferentes continentes.

 

Propostas e resumos

Considerando as graves ameaças que pesam sobre nosso planeta e sobre nós mesmos,

Considerando a tirania imposta cotidianamente a bilhões entre nós pelo efeito devastador da pobreza extrema,

 

Considerando o fato de que nossos Estados e governos com frequência não têm nem a capacidade nem a vontade de colaborar conjuntamente para resolver de maneira satisfatória e nos tempos necessários esses perigos que ameaçam o nosso planeta e a nós mesmos,

 

Considerando o fato de que a Organização das Nações Unidas e os organismos que dela derivam ou a ela estão vinculados nem sempre dispõem de meios financeiros, materiais e políticos suficientes para enfrentar essas ameaças de maneira adequada ou erradicá-las,

 

Considerando o fato de que os organismos financeiros internacionais, Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Mundial, bem como as corporações transnacionais, não só são incapazes de resolver as crises como também são responsáveis por elas,

 

Nós, os povos de África, América, Ásia, Europa e Oceania proclamamos, para nosso planeta inteiro e para aqueles e aquelas que o habitam, que nossa Terra é nossa Mãe-Terra e que o Universo é nossa Pátria,

Que a pobreza de uns é a pobreza de todos,

 

Que a humilhação de uns é a humilhação de todos,

 

Que o medo de uns é o medo de todos,

 

Que a escrivão de uns é a escravidão de todos,

 

Que formamos um mosaico de povos

Livres, responsáveis e solidários,

 

Que em sua extrema diversidade e sua magnífica pluralidade são indivisíveis, apesar das disputas criadas e alimentadas pelos ressentimentos induzidos pela História, pela separação com frequência artificial das fronteiras estatais e pelas injustiças e desigualdades que atingem a alguns países mais que a outros, a algumas regiões mais que a outras, a algumas comunidades mais que a outras, a alguns indivíduos mais que a outros,

 

Que permanecem convencidos de que seu futuro próximo e distante está em superar esses obstáculos nascidos de uma longa história de guerras e conflitos que precisam ser finalizados, enquanto se abre outro capítulo da grande aventura humana tão emocionante, inquietante, cheio de esperança e ao mesmo tempo movido por incertezas e desafios,

 

Proclamamos que faremos e lutaremos sem descanso para:

Que todos os homens e mulheres sejam iguais em direito, sem distinção de raça, cor, sexo, origem ou nacionalidade,

 

Que todos os homens e mulheres tenham sempre a mesma igualdade de oportunidades,

 

Que todos os homens e mulheres possam praticar sua religião e suas crenças, incluída a de não ter crenças, em total liberdade,

 

Que todos os homens e mulheres possam expressar suas opiniões em total liberdade, e isto em qualquer lugar do planeta,

 

Que todos os homens e mulheres acessem as riquezas e recursos de nosso planeta, independentemente de seu lugar de nascimento ou de residência ou do lugar de onde provenham essas riquezas e recursos,

 

Que todos os homens e mulheres participem de um sistema de educação digno desse nome para todos os seus filhos,

 

Que todos os homens e mulheres tenham acesso a um sistema de saúde de qualidade e adaptado ao estado de saúde da cada um,

 

Que todos os homens e mulheres tenham acesso à água necessária para sua sobrevivência, sua saúde e seu bem-estar,

 

Que todos os homens e mulheres possam se organizar em associações e participar da vida política de seu povo, de seu país ou de sua região,

Que todos os homens e mulheres tenham direito a um sistema judicial que ponha em pé de igualdade todos os cidadãos do mundo, qualquer que seja seu lugar de origem,

 

Que todos os homens e mulheres disponham do direito inalienável de circular por qualquer lugar do mundo sem distinção de nacionalidade,

 

Que todos os homens e mulheres disponham de um emprego digno relacionado com suas qualificações, em todas as partes do mundo em qualquer que seja seu lugar de nascimento,

 

Que todos os homens e mulheres possam viver com dignidade e respeito, em segurança e conforto, em alegria e segundo sua concepção de felicidade,

 

Que se utilizem por fim todos os recursos humanos, energéticos e financeiros necessários para que a pobreza seja erradicada e possamos construir juntos e com serenidade nosso futuro comum.

 

Por último, é dever de todos, em um espírito de solidariedade e responsabilidade, atuar de forma tal que estes direitos sejam acessíveis e respeitados de maneira indivisível.

 

Que um só entre nós seja excluído e toda a humanidade será ultrajada.

Os povos, unidos, devem governar o mundo!

 

Por conseguinte, lutaremos todos juntos, lado a lado, até que caiam os últimos obstáculos para nossa emancipação e até que possamos viver em harmonia com nossa Mãe-Terra, em toda a sua dignidade e em total liberdade.

 

Povos da Terra, estamos divididos há muito tempo.

 

Chegou a hora de abrir as grandes avenidas de uma humanidade emancipada.

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