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Rio+20 deve admitir fracasso na área ambiental Rio+20 deve admitir fracasso na área ambiental

 

Enquanto governos e autoridades tentam convencer o mundo de que a reunião no Brasil em 2012 sobre o clima (Rio+20) terá um papel fundamental para encontrar uma solução para os problemas do planeta, o economista Jeffrey Sachs abandona a diplomacia e faz uma dura constatação: o encontro no Rio de Janeiro deve servir para admitir duas décadas de fracassos no campo ambiental e deve ser a oportunidade para o mundo reconhecer que não tem uma resposta para a crise.

 

O alerta do professor da Universidade Columbia, considerado pela revista “Time Magazine” uma das pessoas mais influentes do mundo, foi feito durante um debate da Organização das Nações Unidas (ONU), ocorrido em Genebra, na Suíça, com um grupo restrito de negociadores, ONGs e diplomatas.

 

“A conferência deve deixar claro que perdemos 20 anos na agenda climática mundial. Hoje, as emissões de gases de efeito estufa são maiores, há uma aceleração da perda da biodiversidade e da desertificação. A reunião, portanto, não será para marcar um sucesso, mas reconhecer um fracasso histórico”, disse o acadêmico.

 

“Todos queremos que essas cúpulas terminem em um grande sucesso, com progressos e com governos dizendo que fizemos a agenda avançar. Todos querem tirar a foto de família entre os líderes. Mas não querem enfrentar a realidade”, disse. “Gostamos mais das ilusões. Mas chegou o momento de falar a verdade. Temos de entender que o processo negociador fracassou, que não há uma agenda.”

 

Sachs faz uma comparação com a Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio. “Há onze anos líderes ficam dizendo que a Rodada Doha precisa ser concluída. Mas temos de chamar as coisas da forma que são. Doha morreu.”

 

Estados Unidos

 

O economista não disfarça sua frustração total com a política ambiental de Barack Obama. “Os Estados Unidos entraram em colapso como líder mundial e se transformaram em um obstáculo para qualquer acordo na área ambiental.”

 

O motivo, para ele, é o lobby da indústria de energia nos Estados Unidos. “Essa é a maior crise de governança do mundo. O lobby da indústria venceu Obama. As empresas de petróleo financiam os políticos republicanos no Congresso. Os democratas são financiados pelo lobby do carvão. Em 20 anos, os Estados Unidos não fizeram nada na agenda climática e os interesses das empresas acabaram dominando.”

 

“O lobby que custa por ano US$ 50 bilhões financiou estudos fraudulentos, versões anticientíficas e de extrema-direita no Congresso americano. Hoje, temos um sistema corrupto e o Congresso está nas mãos dos maiores poluidores do mundo.”

 

Por isso, na avaliação de Sachs, Washington vai barrar qualquer acordo que preveja mecanismos para o financiamento do combate ao clima. “Não há condições de pedir que os Estados Unidos liderem o processo de negociação.”

 

Crise na zona do euro

 

O problema, segundo ele, é que a ausência dos Estados Unidos como líder não deu lugar a um outro grupo de países. A Europa, em crise, tenta resgatar sua economia primeiro.

 

“Já a China não vai assumir esse papel, já que estima que são os americanos, com um PIB per capta bem superior a de um chinês, quem deve fazer os maiores esforços. Não há ninguém preenchendo o vácuo. Não existem mais líderes globais.

 

Sachs estima que o mundo precisa insistir em ampliar o debate técnico sobre a questão climática, e deixar nesse momento as barganhas políticas de lado. “Precisamos de novas tecnologias e para muitos casos ainda não temos respostas.” Sachs aponta que a expansão do etanol de milho “não faz qualquer sentido” e que outras tecnologias renováveis ainda não são economicamente viáveis. Ele defende que debate nuclear precisa se tornar mais estruturado.

 

Outro problema é a questão do financiamento da transição para uma economia verde. “Em 2009, os países ricos prometeram que destinariam US$ 100 bilhões para lutar contra as mudanças climáticas. Até hoje, nenhum um só centavo foi depositado e duvido que veremos esse dinheiro no curto prazo. Isso foi só um show para chamar a atenção do mundo e mostrar que algo estava sendo feito”, apontou.

 

“Temos de entender e falar a verdade sobre o tamanho do desafio que o planeta enfrenta. O maior perigo é acharmos que existem respostas fáceis. Não, elas não existem”, defendeu. “Hoje, as emissões de CO2 são duas vezes maiores que o ideal. Até 2050, se nada for feito, vão se multiplicar por quatro. Isso exigirá reconfigurar todo o sistema energético do planeta.”

 

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